sábado, 19 de setembro de 2020

HOJE EU VOU ME PERMITIR

Por: Jô Martines

Sim, hoje eu vou me permitir ficar triste. Porque a tristeza faz parte da vida. E o sal das minhas lágrimas vai temperar minhas reflexões. 

Também vou me permitir sentir saudades das pessoas amadas que já se foram. Porque a saudade faz parte da vida. E o calor trazido pelas minhas lembranças vai aquecer um pouco meu coração. 

Vou me permitir me sentir fracassada em alguns assuntos. Porque o fracasso anda ao lado do sucesso. E as minhas fraquezas me farão mais humana. 

Vou me permitir sentir cansaço. Porque a vida não está fácil, não. Mas, tudo bem. Ninguém me disse que seria fácil. 

E vou me permitir silenciar. Até que o silêncio grite para mim as palavras que eu calei, que eu engoli, que eu sussurrei. Porque a vida, como diria Lulu Santos, é feita de silêncios e de luz. 

Enfim, hoje eu vou me permitir extravasar meus mais sinceros sentimentos, minhas mais absurdas vontades, meus mais ardentes desejos e minha total apatia, se a apatia quiser seu próprio espaço. 

Sem porque, sem senão, sem talvez... só vou me permitir... 

E quando a esperança resolver invadir meu peito à força, e fizer novamente morada em mim, eu vou me permitir voltar a sonhar.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

FÊNIX DESISTE?

Por: Jô Martines

Será que a Fênix desiste?
Será que ela simplesmente se cansa e desiste de renascer?
Será que ela pensa que sempre valerá a pena renascer e continuar?
Ou o fogo também causa danos e abala as suas certezas?
Qual é o tempo de continuar?
Qual o tempo de desistir?
Ainda há tempo para mudar?
Ou será sempre esse círculo de começo, meio e fim?
A Fênix consegue mudar ou está predestinada a repetir ad eternum
os mesmos erros, as mesmas experiências?
Quem sabe seria mais válida a breve e intensa vida do beija-flor...
Quem sabe seria mais leve a calma vida do pardal...
Quem sabe a pobre Fênix desejasse uma vida como a do tucano, previsível mas significativa.
A verdade é que nem ela sabe. Nem nunca saberá, pois fadada está a renascer, de novo, de novo, de novo.
Quantas mortes cabem num coração?
Quantos recomeços cabem nos sonhos?
Quantas Fênix cabem numa só?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SENTIMENTOS SORRATEIROS

Por: Jô Martines

Alguns deles são assim, sorrateiros.
Chegam do nada, se instalam num piscar de olhos e quando a gente menos espera, nos dominam por inteiro. No mais são bem autênticos.
Eles tem um “quê” de imperativos, urgentes, passionais.
Nunca pedem licença e nem querem saber se você está disponível ou propensa. Não perguntam nada, não anunciam nada.
Simplesmente acontecem. E são viscerais, são literais.
Trazem uma força consigo, capaz de chacoalhar a gente por dentro.
É praticamente aquela sensação de queda livre que nos apavora quando estamos adormecidos e acordamos assustados. Parece que estávamos no vácuo e de repente a força da gravidade nos dá um solavanco, fazendo com que a gente volte a ter consciência de nós mesmos.
É um misto de sensações, é meio assustador, mas fica nítida a energia que passa através de nós, com nuances de pequeninos choques elétricos percorrendo nossa corrente sanguínea.
E ai já era... o sentimento sorrateiro já está lá, habitando em nós.
Não tente saber de onde ele veio, ou do que ele é feito. Faz parte de você agora.
E assim aconteceu. Só me apercebi depois. Ainda em meio ao torpor de estar à mercê de um novo e latente sentimento, muito forte, incontestável, fui aos poucos tomando pé da minha nova condição.
E me rendi. Baixei a guarda e me dediquei a aceitar o que ainda está por vir.
Porque sei que é apenas o começo.
Mais um recomeço. De tantos e tão necessários.
Lá vai a fênix de novo desaparecer para ressurgir das próprias cinzas.

domingo, 29 de janeiro de 2017

ANDO TÃO À FLOR DA PELE

Por: Jô Martines

Quando eu passo tempo demais ligada no “piloto automático”, esqueço de me olhar no espelho, me enxergar. De me enfeitar para a vida.
E num acaso alguém acaba servindo de espelho e é cada susto que eu levo quando num lapso sou obrigada a me olhar de frente.
Sempre que isso acontece comigo, essa estranheza de me reencontrar num acaso, eu (ironicamente) procuro parar um pouco para “refletir” sobre esse assunto que me incomodou, essa porta aberta e escancarada para dentro de mim. E mergulho nesse reflexo.
Hoje aconteceu de novo. Um novo espelho me trouxe a imagem distorcida, um reflexo de alguém que não era eu. Um reflexo de uma figura débil, infantilizada, imatura.
Imediatamente, instintivamente a reação foi de rejeitar essa imagem, e dizer que aquela figura não era eu. Mas, será que não mesmo?
Eu sou moleca sim, mas também sou mulher.
Então, o que é meu e o que não é naquele reflexo?

Aproveito para perguntar para alguém que supostamente me conhece bem, dado que nem nós mesmos nos conhecemos por completo.
E ai vem a resposta óbvia. Mas o óbvio às vezes nos foge aos olhos.
E nesse resumir do que sou, de quem sou, o que ouvi foi que quando estou nervosa, sou só nervos, quando estou amando, sou só amor, e quando estou brincando sou uma moleca. E resumiu: você é emoção ao extremo!
Eu juro que entendi o que isso significava. Mas repudio a crítica velada que vem embutida. Como se ser emoção ao extremo fosse errado. Como se a minha verdadeira natureza jamais pudesse se manifestar como de fato é.

Ando tão à flor da pele, que o Zeca Baleiro acertou em cheio mesmo... qualquer beijo de novela me faz chorar.
Ando tão à flor da pele que estou sem paciência para ladainhas, para jogos, para blefes.
Também quero só o que se encaixa comigo. Também não tenho mais tempo a perder.
Não sei o que o amanhã irá me trazer, mas sei o que eu quero encontrar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O RETORNO DA FÊNIX


Por: Jô Martines

Você já sentiu saudades profundas de si mesmo?
Eu senti.
Já vasculhou todos os recônditos de sua alma em busca daquela pessoa que um dia você era e que se perdeu por ai, nas idas e vindas de um insano cotidiano, que aparentemente não nos leva a lugar nenhum?
Eu sim.
Estou finalmente chegando de volta à mim, depois de uma cansativa viagem. Depois de tentar retroceder num percurso que me causou estranheza, medo, receio de me perder de novo pelo caminho.
É uma sensação de quase-morte (e disso eu entendo, vai por mim).
É sensação de evanescência, de extinção.
Esbarrei em fatos, em sentimentos, em pensamentos meus, como se eu fosse uma estranha a me assistir.
Pude me observar, me julgar, me criticar, me questionar, repetidas vezes.
Sim, foi minha sabatina, minha mea culpa.
E claro que, inevitavelmente acendi minha fogueira e fiz minha auto-inquisição.
E nessa minha fogueira queimei muitas mágoas (não todas, como era de se querer), queimei muitas frustrações, muitos enganos, ilusões, mas fiz questão de queimar muitas desilusões também.
E não é que sai bem mais leve?
Ainda não consegui concretizar o real desejo de trilhar o caminho de Santiago, mas posso dizer, sem medo de errar, que consegui me desfazer de alguns pesos que certamente iriam me assombrar, caso continuassem cá comigo.
E acredite, para alguns erros eu até me consenti o perdão.
Cá comigo, de antemão já sei que essa fogueira vai ter de ser reacendida por diversas vezes ainda.
Tantas quantas forem necessárias para depurar-me e para que eu possa renascer de mim sempre que isso tiver que acontecer.
Estou sim renascida, e por isso mesmo prestes a começar novas jornadas, interiores, exteriores, solitárias, solidárias.
Mas agora, dê-me espaço, deixo-te meu abraço, preciso ir... vou voar...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

CORAÇÃO TOCADO

Por: Jô Martines

Em qual esquina eu perdi a minha fé nos seres humanos?
Em que momento específico eu me dei conta de que a vida moderna nos deixou à mercê de estranhos que agem como amigos de infância e de pessoas que conhecemos à fundo mas que agem como totais desconhecidos, sem um pingo de afinidade para conosco?
Não sei dizer quando ocorreu. Nem dimensionar o que isso me causou.
Ficou apenas a amarga certeza de que isso importa, posto que não sou uma ilha, nem pretendo ser.
E embora às vezes o sentimento de solidão é bem próximo do isolamento que uma ilha distante possa me transmitir, um turbilhão de obrigações e contextos me puxa de volta ao convívio com os meus semelhantes, alguns nem tão semelhantes assim.
A cultura ocidental nos estratificando, nos espremendo cada vez mais, afim de extrair o que há de mais "produtivo', o que há de mais "capitalizável", e em contrapartida, nos prometendo ilusórias e vazias sensações de conquista e de realização pessoal. Isso sem falar do processo (quase alimentício) de homogeneizar e pasteurizar as pessoas, como se fosse possível deixar todos iguaizinhos.
Vistam as mesmas roupas, comam as mesmas comidas, viajem para os mesmos destinos, queiram as mesmas coisas ... sempre!
Do outro lado a cultura oriental nos mostrando outros caminhos, outras maneiras de buscar o que há de melhor em nós, e tendo também sua contrapartida, nos tarifando em sacrifícios e desapegos para os quais a maioria não está preparada ainda.
Sejam verdadeiros, deixem de lado as ilusões, os brinquedos, o ego... agora!
E no meio disso tudo eu, perdida, confusa, ora esperançosa em ir em busca daquela luz brilhante, ora solapada pelo peso do dia-a-dia brutal disfarçado de vida normal.
E eis que surgem pessoinhas diversas, distantes, alheias aos meus males, que me conectam sem saber, que me tocam por vezes sem intencionar, que me devolvem o brilho no olhar, a vontade de buscar, a fé na vida, o pé na estrada...
A fé em mim...
A essas, a minha gratidão!